Avaliar recursos educativos online é um processo subjetivo pois existe um leque diversificado de opções com diferentes finalidades difíceis de analisar. Num contexto educativo, a primeira preocupação, por parte do avaliador, deverá ser a qualidade do recurso seguida das suas potencialidades para a melhoria do processo ensino/aprendizagem de acordo com as competências a adquirir, isto é, corresponder às exigências do sistema educativo português. Para além disso, é necessário verificar se o recurso possui uma identidade autónoma relativamente a outras estratégias/ferramentas online similares. O modelo definido por Shaughnessy descrito no artigo Sistemas de Avaliação, Certificação e Apoio à Utilização de software para a Educação e formação (Ramos, Duarte, Carvalho, Ferreira, Maio, 2005) demonstra como avaliar um determinado software à luz das necessidades do processo educativo.
Segundo Carvalho (2005, p.82), para além da qualidade científica do conteúdo do recurso existem outras componentes importantes a avaliar, nomeadamente o papel da estrutura, da navegação, do menu, das atividades, da ajuda, do feedback e da interface na promoção da autonomia, na orientação no hiperdocumento, na liberdade (maior ou menor) de navegação e de aprendizagem, e no apoio proporcionado ao desempenho do utilizador. No entanto, cada REO é único e compete a cada educador explorá-lo e avaliá-lo previamente à atividade letiva de forma a tirar o máximo partido das suas caraterísticas em contexto educativo.
Atualmente, as editoras facultam, simultaneamente, com os manuais escolares, recursos educativos online que permitem ao professor utilizá-los na sala de aula auxiliando as aprendizagens de conteúdos mais complexos. Estes REO já foram avaliados pela sua qualidade, rigor científico e adaptados ao currículo nacional português o que representa uma ajuda significativa ao trabalho docente. Mas apresentam algumas desvantagens no sentido que alguns educadores, perante a confiança e rigor que a editora transmite, não exploram devidamente as suas potencialidades antes de aplicá-los nas práticas letivas, criando lacunas a nível do desenvolvimento da capacidade de raciocínio que o REO permite ou mesmo a nível da coordenação do REO em sala de aula. De acordo com Carvalho (2005, p. 76) “a liberdade dada ao sujeito na sua exploração e interatividade proporcionada refletem uma teoria de aprendizagem subjacente à sua construção, podendo ter uma orientação mais construtivista. O utilizador (neste caso, professor ou educador) ao explorar o software apercebe-se dos princípios teóricos subjacentes.” O que acontece muitas vezes é que o educador não tem conhecimentos suficientes para explorar os recursos educativos online e posteriormente avaliá-lo sendo que o objetivo da utilização do mesmo não é atingido. Cada vez mais exige-se mais competências e metodologias pedagógicas diferenciadas utilizando recursos educativos online na prática letiva mas pouca formação existe para dotar o educador de competências para os avaliar. Tal como refere o autor Costa (2007) no caderno SACAUSEF, Aprendizagem como Critério de Avaliação de Conteúdos Educativos on-line, “… a avaliação deste tipo de materiais um eixo central do processo de formação dos professores tendo em vista a sua preparação específica para o uso das TIC. Uso que, na Escola, como se sabe, continua insatisfatoriamente longe dos objectivos desejáveis, pelo menos à luz da tão apregoada Sociedade da Informação em que vivemos hoje, e dos enunciados inscritos, ainda que timidamente, no próprio Currículo Nacional.” Neste sentido, a aquisição de competências tecnológicas e os critérios de avaliação dos recursos educativos online devem acompanhar a evolução tecnológica que se tem verificado nos últimos anos permitindo, igualmente, ao educador, uma avaliação adequada da qualidade dos diferentes tipos de conteúdos educativos cada vez em maior número disponíveis na internet (Costa, 2007).
Anteriormente foi referido que um dos critérios para avaliação dos recursos educativos online seria a qualidade. No entanto, o autor Costa (2007) refere que qualquer sistema de avaliação deve inicialmente definir o que se entende por “conteúdos educativos” uma vez que cada REO tem pressupostos e configurações diferentes. Na minha opinião, este é um conceito chave para análise de qualquer recurso, se o educador não o tiver presente, dificilmente estabelecerá uma avaliação de qualidade focada nos conteúdos mais relevantes. Para além disso, é importante verificar se o REO foi criado para um grupo específico de alunos ou, para qualquer aluno, segundo os conteúdos a serem apreendidos sem ligação direta ao grupo de alunos que irá utilizar. O que acontece em alguns casos é existir um REO construído por um educador à luz de um grupo específico de alunos e quando é aplicado noutro grupo díspar, onde se pretende aplicar os mesmos conteúdos científicos, o objetivo não é concretizado.
Segundo Costa (2007) existem quatro dimensões chave a avaliação de recursos educativos online demonstrando o grau do seu potencial tecnológico:
ü Pedagógico
Prima pelos aspetos pedagógicos da avaliação da qualidade;
ü Conteúdo
Distingue-se pela qualidade do conteúdo, isto é, pelo rigor científico do recurso;
ü Design
Evidencia-se pela estética;
ü Funcionalidade
Prima pelo conjunto de atributos técnicos.
Em suma, não existem receitas para avaliação dos recursos educativos online mas existem aspetos importantes a considerar que garantem um nível mínimo de qualidade.
Referências Bibliográficas
Carvalho, A. (2005). Como Olhar Criticamente o Software Educativo Multimédia. Cadernos SACAUSEF. Obtido em 10 de janeiro de 2012, de dgidc: http://www.crie.min-edu.pt/files/@crie/1186584666_Cadernos_SACAUSEF_70_83.pdf
Costa, F. (2005). Avaliação de Software Educativo – Ensina-me a Pescar! Cadernos SACAUSEF. Obtido em 5 de janeiro de 2012, de dgidc:http://www.crie.min-edu.pt/files/@crie/1186584598_Cadernos_SACAUSEF_46_53.pdf
Costa, F. (2007). A Aprendizagem como Critério de Avaliação de Conteúdos Educativos on-line. Cadernos SACAUSEF. Obtido em 10 de janeiro de 2012, de dgidc: http://www.crie.min-edu.pt/files/@crie/1210161396_04_CadernoII_p_45_54_FAC.pdf
Ramos, J., Duarte, V., Carvalho, J., Ferreira, F., Maio, V. (2005). Sistema de Avaliação, Certificação e Apoio à Utilização de Software para a Educação e Formação. Cadernos SACAUSEF. Obtido em 9 de janeiro de 2012, de dgidc: http://www.crie.min-edu.pt/files/@crie/1186584566_Cadernos_SACAUSEF_22_45.pdf
Ramos, J., Duarte, V., Carvalho, J., Ferreira, F., Maio, V. (2006). Modelos e Práticas de Avaliação de Recursos Educativos Digitais. Cadernos SACAUSEF. Obtido em 9 de janeiro de 2012, de dgidc: http://www.crie.min-edu.pt/files/@crie/1210161451_06_CadernoII_p_79_87_JLR_VDT_JMC_FMF_VM.pdf